Lisboa Dakar 2007

O maior rali do mundo.

abril 16, 2007

Carlos Sousa

PERFORMANCE NO DAKAR 2007 DEIXA PILOTO SATISFEITO
CHEGUEI A SONHAR COM O PÓDIO

Com 11 participações, dez das quais completas, na «prova-rainha» do todo-o--terreno, Carlos Sousa terminou a última edição do Lisboa-Dakar no sétimo lugar.

Numa prova em que os portugueses estiveram em destaque – Hélder Rodrigues terminou em quinto nas motos –,
o piloto luso, que esteve ao volante de um Volkswagen, considera ter feito uma das suas melhores prestações, pese embora tenha ficado aquém das expectativas em termos classificativos.

Em entrevista ao ND, Carlos Sousa faz o balanço da última participação, recorda os momentos--chave da prova e deixa uma garantia: se tudo correr como o previsto, vai estar mais forte em 2008.

Que balanço faz da sua participação no Lisboa-Dakar 2007?

Foi uma das minhas melhores participações, embora a classificação geral não o espelhe. É verdade que já consegui melhores classificações em edições anteriores, mas trata-se de uma prova de 18 dias. Podemos fazer tudo bem em 17, mas um dia é suficiente para ficarmos de fora da corrida. Está, portanto, satisfeito com o seu rendimento, apesar do resultado final...Sim. Gostei e até fiquei surpreendido com a minha performance. De todos aqueles pilotos, eu sou o que menos trabalhou este ano para conseguir um grande resultado mas devo confessar que, no inicio, fiquei optimista e, a dado momento, cheguei a sonhar com o pódio, porque o andamento era forte, o carro estava fantástico e a equipa correspondia.

Infelizmente, houve duas etapas em que as coisas nos correram mal, mas, na última semana, fizemos fantásticas posições em termos de geral. Isso deixa-me satisfeito, embora ficasse mais satisfeito se tivesse chegado ao pódio ou entre os cinco primeiros. De certa forma, acho que me redescobri. Durante dois anos não tive projecto nenhum, não fiz mais nada para além do Dakar e entrei para esta equipa relativamente tarde. Isso fez aparecer um novo Carlos Sousa. Quando todas as pessoas diziam que eu já estava fora da corrida, não tinha a rapidez dos da frente e ficava muito aquém do nível dos primeiros, não foi isso que aconteceu.
Resumindo, acho que as nossas prestações foram muito boas.

Que principais dificuldades encontrou durante a prova?

A maior dificuldade esteve nas condições climatéricas. Havia momentos de tempestades de areia que causavam problemas em termos de visibilidade e as dunas estavam diferentes, com a areia muito macia. Este ano, sabíamos que tínhamos 20 quilómetros de dunas. Todas as equipas entraram desenfreadamente e todas atascaram, sem excepção. Minimizou-se o facto de serem dunas com uma extensão curta e também de não querermos parar para vazar os pneus. Todas as equipas que entraram e não o fizeram, perderam mais tempo lá dentro a tirar o carro da areia. O resultado final não foi aquele que pretendia.

Quais os momentos fulcrais que motivaram este desfecho?

Para além do desencontro entre mim e o navegador (ver caixa) que nos fez atrasar muito na classificação, tivemos, depois, um problema relacionado com o óleo e também parámos para ajudar o Carlos Sainz durante 40 minutos. Noutra etapa, o diferencial partiu. Ao todo, perdemos mais de cinco horas, o que nos tirou por completo da prova.

Apesar do sétimo lugar final, fez uma excelente prova.

Isso demonstra que não é só bom o que vem de fora...Estivemos a um nível espectacular. Recebi os maiores elogios da minha antiga equipa (Mitsubishi) bem como da Volkswagen, pelo desempenho neste Dakar. Infelizmente, nem todas as pessoas sabem dar valor ao que é português. Há quem considere melhor o que vem de fora.

A sua associação à Team Lagos é um caso de sucesso?

Foi o Team Lagos que viabilizou o projecto. Em termos de patrocinadores, nós não conseguimos estar à altura dos «budgets» que eram pedidos para estas equipas de primeira linha. Tivemos, no Verão, uma conversa com o Team Lagos e foi-nos dito que a equipa se iria responsabilizar pelo projecto, avançando em vez de perder tempo à espera que os patrocinadores dissessem que sim ou que não. Entretanto, os contratos foram-se fechando. Devo ao Team Lagos a definição muito rápida do projecto e o facto de ter podido estar com algum tempo de antecedência no Dakar.

O que lhe disse o João Lagos sobre a sua prestação?

Perguntou-me se me sentia bem e eu disse-lhe que sim. Respondeu-me: “Se tu te sentes bem, eu também me sinto bem”. Penso que isso diz tudo. Ou seja, ele sabe que não vamos discutir o motor, os pneus ou a caixa de velocidade, até porque o desporto automóvel não é o seu maior trunfo. O nosso discurso é de piloto para empresário, ou talvez de empresário para empresário.

O que trouxe de positivo ao Lisboa-Dakar e ao nosso País, o facto de Lisboa ter passado a ser o ponto de partida?

Para nós portugueses, o Dakar deixou de ser qualquer coisa de impossível. Lembro-me dos anos em que fui o único português a chegar, entre quatro ou cinco representantes do nosso País. A partir do momento em que a prova começa a sair de Lisboa, o número de concorrentes aumentou exponencialmente. A própria organização sabe que esta é uma vantagem, já que o mesmo aconteceu quando o Dakar partiu de Espanha. Hoje, os espanhóis deverão ser a segunda maior comitiva de pilotos. Provavelmente, depois de 2008, a prova irá para outro Pais, repetindo-se a mesma situação noutros locais. Mas a verdade é que, pelo menos no próximo ano, o Dakar voltará a sair de Lisboa e a imagem que se deu nestes dois anos foi fabulosa. A própria organização elevou a fasquia muito alta, porque, tanto a Lagos Sport como Portugal souberam dar-lhes a demonstração de uma partida completamente diferente, de grande impacto, bem organizada e onde se verificou uma presença em força dos média. Embora se saiba que existe o interesse de João Lagos em prolongar o contrato que viabiliza a partida de Lisboa, desconhece-se o que vai realmente acontecer a partir de 2009, até porque a organização parece relutante em associa-la durante muitos anos ao mesmo país.

Essa rotatividade parece-lhe positiva?

Penso que a rotatividade não é má, até porque os próprios pilotos gostam de ir para sítios diferentes. Eu, por exemplo, tive muita pena de não fazer um Paris-Pequim ou um Paris-Cidade do Cabo... tenho apanhado muito do mesmo (risos). Além disso, quando se vai para sítios diferentes, as equipas estão mais niveladas. O que acontece é que, quando os percursos são os mesmos, as equipas com maiores posses treinam muito esses percursos e ganham vantagem sobre as restantes.

Como viu o sucesso do seu compatriota, Hélder Rodrigues, que terminou a prova de motas na quinta posição?

Com grande orgulho. Quando comecei a correr o Dakar, lembro-me que era grande a indiferença com que se olhava para os pilotos portugueses, minimizando o seu valor. Isso foi sendo ganho a pulso e é o que os «motards» estão a fazer. Estão a demonstrar que, também em Portugal, há pessoas com valor. Não é só o Hélder... são vários «motards». Eles trabalham durante todo o ano de uma forma muito profissional e merecem alcançar bons resultados. São novos, estão com uma motivação extraordinária e, por este caminho, tenho a certeza de que farão grandes resultados no Dakar... é só uma questão de tempo. Acho que vão vencer a prova mais depressa do que eu (risos).

Das 11 edições do Dakar em que participou, qual a que mais o marcou?

Esta última. Houve dois momentos muito especiais. O primeiro foi a partida de Lisboa e a vitória na primeira especial, que aconteceu por causa do público... puxou de tal maneira por mim que eu não podia ir devagar (risos). Depois, senti-me tão bem que repeti em Marrocos o mesmo que havia feito em Portugal... andar entre os da frente. O segundo momento foi o desencontro com o navegador... porque condicionou o sonho de chegarmos ao pódio.-------------

2008APARECER MAIS FORTE NO PRÓXIMO DAKAR

Vai continuar com o Volkswagen na próxima edição?

Eu gostaria que fosse para continuar. Há entre mim, o João Lagos e a Volkswagen, conversações para saber como vamos estar no próximo ano. A marca gostaria que eu me dedicasse mais às corridas. De 1994 a 2001 não fiz mais nada na minha vida senão corridas, mas, em 2001, liguei-me a outras actividades, nomeadamente ao mundo náutico (como empresário). Agora, sinto-me um pouco dividido. Mas terei de decidir se quero mais do mesmo e continuar a sonhar com o pódio no próximo Dakar, ou se quero assumir uma candidatura à vitória em 2008, o que implica começar a trabalhar na próxima semana.

Independentemente da sua decisão, afirmou publicamente que as expectativas em termos de resultados são mais ambiciosas para a edição de 2008...

Dentro de um ou dois meses terei o calendário definido. Se levarmos à risca o projecto que temos delineado, o novo Carlos Sousa ainda vai aparecer mais forte no próximo Dakar. É importante que um Dakar comece a ser preparado com grande antecedência?O Dakar já teve várias fases. Começou pela amadora, depois tornou-se muito profissional na altura da Citroen e da Mistsubishi. Quando as marcas se retiraram e o regulamento afastou os carros de orçamentos muito altos, voltou a cair para uma fase amadora e, agora, regressou à fase muito profissional. Uma vitória de qualquer marca no Dakar significa um retorno de investimento fantástico a nível mundial. Sabendo nós que estamos a atravessar um momento de grande profissionalismo no Dakar, quem não começar a trabalhar já para a edição de 2008, está fora da corrida.----------------

NAVEGADOR TUDO NÃO PASSOU DE UM DESENCONTRO

O seu desencontro com o navegador e o comunicado publicado pela organização da prova – e posteriormente retirado – onde era dito que teria abandonado o alemão Andreas Schulz, deram que falar em Portugal. Soube-se, depois, que tudo não passou de um simples desencontro...

Assim que estive com os jornalistas e me disseram que teria abandonado o navegador, fiquei perplexo e até lhes respondi: “Abandonei-o? Mas ele não está aqui ao meu lado?” Ou seja, na altura nem me apercebi da dimensão da história. Mas o primeiro grande erro foi da organização, porque, quem escreveu aquilo, não sabia o que estava a fazer... por duas razões: Primeiro porque, se abandonasse o meu navegador, mais valia que fizesse as malas e regressasse de imediato a casa já que uma equipa que chegue incompleta é desclassificada. Em segundo lugar, sujeitava-me a uma sanção que me poderia deixar vários anos sem conduzir. Seria incapaz de uma imbecilidade dessas. O que se passou exactamente?Foi um desentendimento que até deu para rir um bocadinho, embora nos tivesse prejudicado muito na classificação e hipotecado aquele pequeno sonho de podermos chegar ao pódio. O carro ficou atascado numa duna e o meu navegador saiu para o desatascar. Quando ele voltou para trás para ir buscar as placas, eu arranquei à procura de um local seguro para parar. Só que, entretanto, fiquei rodeado por um mar de carros e só parei cerca de um quilómetro e meio mais à frente. Ou seja, eu fiz um erro de amador quando não parei logo no primeiro cordão de dunas e ele fez o erro de ter voltado as costas ao carro. Tenho passado uma vista de olhos por alguns fóruns e sites na internet e o mais incrível é que, mesmo agora, depois de algumas explicações e sabendo-se que tudo não passou de um desencontro, ainda há pessoas que continuam a achar que o Carlos Sousa fez malandragem e deixou o desgraçado do navegador no meio do deserto... como se isso fosse possível. Mas nem me preocupei em fazer uma conferência de imprensa ou desmentido, porque a notícia tem tanto de complexo que só pode ficar a parte engraçada.
Norte Desportivo

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