Lisboa Dakar 2007

O maior rali do mundo.

abril 17, 2007

HELDER RODRIGUES

Qualidade para triunfar

Do Dakar para a ribalta mundial

O quinto lugar alcançado na segunda participação no Lisboa-Dakar obrigou todo o país a conhecer Hélder Rodrigues.

Detentor de um palmarés invejável (dentro e fora de portas), o piloto de Sintra voltou a vencer a classe de 450cc e brilhou ao mais alto nível vencendo duas etapas.Hélder Rodrigues dispensa apresentações.

É o motard português com mais títulos internacionais, tendo-se notabilizado na modalidade de Enduro. Por cá, há muito que nos tem habituado às vitórias e os títulos têm-se sucedido em catadupa. Há dois anos que representa a formação Bianchi Prata Competições, que lhe permitiu a estreia no Lisboa-Dakar.

Depois do nono lugar à geral alcançado no ano passado, na estreia, elevou a fasquia para esta edição. Preparou-se melhor e o resultado viu-se: ganhou duas etapas (uma das quais em solo africano) e garantiu o melhor resultado de sempre de um motard português nesta competição. Fomos perceber melhor como este resultado foi conseguido e… o que daí pode vir.

MOTOR: Depois de uma excelente estreia em 2006, elevaste a fasquia, colocando como meta pessoal o top-five. Foi o que conseguiste.

Melhor era, efectivamente, impossível e correspondeste em absoluto às expectativas. Conseguiste preparar-te melhor para este segundo ano?

Hélder Rodrigues: Já no ano passado tinha corrido bem e para esta edição fiz por que corresse melhor. Foi muito mais fácil. Tivemos mais tempo para preparar a prova, apesar de não termos tido todo o que eu queria. Correu bem, porque dedicámos grande parte do ano a preparar esta segunda participação. Evoluímos muito. É verdade que os outros também evoluíram, mas nós evoluímos mais do que eles.

M: Porque dizes que progrediram mais do que os vossos adversários?

HR: O nosso salto relativamente aos outros foi seguramente superior, porque melhoramos em quase todos os aspectos.

M: Este ano, voltaste a apresentar-te aos comandos de uma Yamaha WR450. Mudaste alguma coisa na moto?

HR: A moto foi totalmente modificada, nomeadamente ao nível da suspensão (conjunto Showa, trabalhado pela MXT), passando pelo motor, cuja preparação esteve a cargo de Rui Silva da Barbo Racing e também ao nível das carenagens da moto e dos sistemas de navegação. Foi uma grande transformação.

M: Coisas que sentiste necessidade de actualizar face à primeira experiência e de acordo com os treinos que foste fazendo em Marrocos?

HR: Sim. Durante os treinos, fui percebendo o que havia a melhorar. Quando chegava, dava as indicações aos preparadores e eles operavam de forma a pôr a moto a meu gosto. É fundamental ter a moto ao estilo do piloto, para que nos sintamos confortáveis e confiantes. E os preparadores fizeram um trabalho excelente.

M: A experiência do primeiro ano é muito importante, em especial para perceber a «mecânica» da prova?

HR: O primeiro ano foi uma verdadeira loucura. Não tinha noção nenhuma do que significava estar num Dakar. Não sabia trabalhar com os aparelhos de terra-trip, com o road-book e muito menos sabia de navegação. Não tinha noção de nada e nesse campo foi uma prova feita às cegas. Felizmente, tudo correu bem e foi efectivamente uma grande escola. Com base nisso e a juntar aos treinos, este ano tinha de correr melhor.

M: O truque está em saber gerir o esforço físico e psicológico ou não?

HR: Tens sobretudo de andar rápido. O truque está em ser muito rápido, mas sem nunca andar a 100 por cento. Temos que andar sempre a 80 por cento do que somos capazes, mas, de base, temos desde logo de ser muito rápidos. Se andares a gerir mas não andares rápido não consegues chegar aos primeiros lugares. De vez em quando, atacas um pouco, outras vezes proteges-te mais um bocado. Não podes andar sempre ao ataque, sob pena de «borrar a pintura».

M: Foi o que te vimos a fazer, ou seja, quando sabias que as especiais te eram favoráveis, atacavas; quando sabias que era mais complicado, optavas por gerir, ainda que rodando entre o grupo da frente...

HR: Ataquei sempre. Fiz por andar sempre entre o grupo da frente. Na primeira especial em Marrocos, infelizmente tive um problema com o terra-trip, que não funcionou e que me fez perder alguns lugares e cair para fora do top-ten. Mas de resto fiz por atacar o mais possível.

M: O facto de não seres o único piloto da equipa – como aconteceu em 2006 – acabou por ser de extrema importância para o resultado final. Foi importante sentir que tinhas as «costas protegidas», nomeadamente pelo Bianchi Prata?

HR: Se não fosse assim nunca teria conseguido este resultado. Basta pensar que na especial em que furei, se não fosse ele a ceder-me a roda para prosseguir em prova, certamente iria perder tempo precioso, talvez duas ou três horas… teria comprometido a minha participação. Houve um dia em que me perdi e em que o Pedro (Bianchi Prata) passou para a minha frente e confesso que ainda temi, porque sabia que se tivesse algum problema grave ele já não poderia vir em meu auxílio. Felizmente, não foi preciso e tudo correu pelo melhor. No dia da etapa maratona, cheguei com o escape da moto amassado e optámos por trocar o meu pelo da moto dele para não comprometer a minha prestação. É sempre diferente sentires que estás apoiado, até por uma questão psicológica.

M: Na televisão, vemos as bonitas paisagens e vemos o lado bonito desta competição, mas vocês passam por muitas provações. É uma prova de esforço tremenda, em especial para os motociclistas. È fundamental estar-se bem preparado física e psicologicamente?

HR: Nada pode ser descurado. Podes estar muito bem preparado fisicamente, mas se não preparares a moto correctamente também não consegues atingir o objectivo. Tudo tem de estar a 100 por cento. Tudo tem de funcionar na perfeição.

M: Ao longo da prova, era possível identificarmos-te pela bandeira que trazias às costas. Foi uma ideia tua? Sentias necessidade de apelar ao apoio do público português?

HR: Foi uma ideia que tive quando estava a arrumar a roupa para o início da prova. Vi a bandeira e pedi para alguém a coser ao casaco. O público, quando via a bandeira, ficava mais motivado e transmitia-me esse entusiasmo, o que é muito bom. É sempre bom sentir o apoio do público.

M: O facto de alinhares com uma 450cc não te permite estar em pé de igualdade face às mais potentes KTM oficiais. Mas não crês que é uma opção mais equilibrada para o início? Não consegues competir em termos de velocidade de ponta, mas deve acabar por ser uma boa opção por ser mais leve?

HR: É sem dúvida. Se não tivesse ido com aquela moto nestes dois anos, se calhar não tinha conseguido acabar nenhuma destas duas edições, muito menos em quinto. É uma moto muito equilibrada, em especial para quem tem pouca experiência, e à qual me adaptei muito bem. Principalmente este ano, porque a conduzia quase com o mesmo à vontade com que o fazia com a minha moto de enduro.

M: O quinto lugar obrigou toda a gente a saber quem era o Hélder Rodrigues e naturalmente deu-te maior visibilidade. Já sabes o que vais fazer ao longo deste ano?

HR: Ainda é muito prematuro falar de projectos. O Dakar acabou há pouco e por isso ainda não houve tempo para definir o futuro. É algo que tenho de decidir dentro dos próximos dias, mas ainda nada está confirmado

M: Se pudesses escolher, o que é que gostarias de fazer?

HR: Seguramente o Mundial de Raids. Gostava de continuar a fazer enduro e até algumas provas de motocross, porque, fundamentalmente, gosto de andar de moto, seja na «grande» – leia-se, a que usou no Lisboa-Dakar – seja na «pequena» (de enduro), mas o grande objectivo passa por disputar o Campeonato do Mundo de TT.

Resta ao MOTOR desejar a maior sorte ao «Estrela» para que possa continuar a brilhar… dentro e/ou fora de portas.-----------------------------

Palmarés de luxo Hélder Rodrigues

começou a competir em 1994 (tinha então 15 anos) e cedo mostrou grande qualidade, facto que lhe valeu a alcunha de «Estrelinha». Desde 1999 que tem vindo a coleccionar títulos e a construir um currículo invejável, sendo já o português com mais títulos internacionais conquistados.

Depois de uma fase como piloto oficial KTM, alinha pela formação Bianchi Prata Competições nos últimos dois anos, pela qual conquistou um lugar entre os melhores do Dakar.

2007(Bianchi Prata Competições)

5º da geral Lisboa-Dakar (1º classe SP 450)

2006Campeão Nacional de Enduro e da Classe 450cc9º na estreia no Lisboa-Dakar (1º classe SP 450)
7º no Campeonato Mundial de Enduro classe 250cc

2005(Piloto oficial GasGas)
Campeão Nacional de Enduro e da Classe 250cc
4º nos 80º ISDE Eslováquia classe III (melhor português)7º no Mundial de Enduro na classe Enduro II

2004(Piloto oficial KTM – KTM Farioli)
9º nos 79º ISDE Polónia classe I (melhor português)Hexa-Campeão Nacional de Enduro e da Classe Enduro I8º no Mundial de Enduro na classe Enduro I

2003Campeão Mundial 125cc nos 78º ISDE Brasil Enduro I (melhor português)Penta-Campeão Nacional de Enduro e da Classe 250cc4º no Mundial de Enduro 250cc20024º no Mundial de Enduro 250cc (melhor privado)7º no Mundial de Enduro (melhor privado)Vice-Campeão do Mundo por equipas na Selecção Nacional - ISDE (melhor português)2001Campeão Nacional de Enduro e da Classe 250cc7º no Mundial de Enduro 125ccVencedor da Baja Telecel2000Campeão Nacional de Enduro e da Classe 125cc (1º a vencer à geral com uma 125cc)Campeão Mundial Júnior 125cc (1º português a vencer)Vencedor da Baja Telecel1999Campeão Nacional de Enduro e da Classe 250ccVice-Campeão Europeu de Enduro classe 250cc Sénior (ainda Júnior)Medalha de ouro nos ISDE – 3º na classe 125cc (1º Júnior)----------------------------

Vitória colectiva

O resultado alcançado foi conseguido (também) com a ajuda dos restantes elementos da equipa Bianchi Prata Competições, que criou a maior estrutura nacional, daí que a alegria de chegar ao Lago Rosa fosse extensiva a todos os elementos.--------------------------

Prova de esforçoBianchi acreditou semprePedro Bianchi Prata foi o mentor de todo o projecto que envolveu a participação de Hélder Rodrigues na «Grande Aventura».

Este ano, a equipa inscreveu três pilotos – «Estrelinha», o próprio Bianchi e Pedro Oliveira – e uma estrutura de apoio digna de uma equipa de topo.

Afinal, o objectivo era ambicioso: possibilitar que Hélder Rodrigues chegasse ao quinto posto.

Para Bianchi Prata foi a estreia… e que estreia. Diversos problemas fizeram-no estar várias vezes para desistir, mas… esse é um verbo que o piloto teima em não conjugar.

MOTOR: No ano passado, apenas inscreveram um piloto. Este ano, subiram a parada. Percebeste que era importante ter mais pilotos inscritos?

Pedro Bianchi Prata: Segui a prova do Hélder, no ano passado, até para perceber o que era o Dakar e o que era necessário para fazermos bons resultados. É óbvio que beneficiámos muito, mas mesmo muito, da experiência que o Hélder teve, que envolveu a preparação da moto e nos permitiu preparar as coisas da melhor forma. Percebi que para fazer um bom resultado, o piloto mais rápido tinha de ter alguém para o ajudar e foi o que aconteceu. Eu fui para chegar ao fim, mas sobretudo para ajudar o Hélder a chegar ao fim bem classificado. Era essa a prioridade. Tudo correu bem, felizmente. Quando precisou da minha ajuda, teve-a e foi importante.

M: A tua prova, de resto, foi marcada por uma boa dose de problemas…

PBP: De facto, tive muitos problemas extra-corrida. Sofri muito para chegar ao fim, mas quando meto uma coisa na cabeça e a vontade é muita é difícil haver barreiras que me travem.

M: A tua participação espelha o espírito original desta competição, nomeadamente em termos de espírito de sacrifício. É uma experiência violenta, em especial se feita de moto?

PBP: É sobretudo perigosa. Ou vais com a noção que vais para andar de pressa e estás preparado para isso ou então deves andar de devagar, poupar a moto e poupares-te a ti. São muitos dias e a parte psicológica é super importante. Não basta estar bem fisicamente, temos também de estar psicologicamente fortes. Fiz uma gestão do meu Dakar muito boa, embora tenha tido dois dias em que não dormi – um por causa de um furo na especial e outro quando uma fuga de óleo me fez perder muito tempo. Partia para o dia seguinte, mesmo sabendo que estava cansado e que não poderia dar o meu melhor e geria da melhor maneira.

M: Tiveste vários momentos complicados. Alguma vez pensaste em desistir?

PBP: Nunca baixei os braços e talvez por isso consegui terminar. Tive mil e uma peripécias que me podiam ter feito desistir, mas havia sempre uma solução. Acredito que a sorte somos nós que a fazemos. Ao procurarmos todas as soluções e ao darmos o máximo para atingirmos os objectivos, as coisas vão surgindo. Parte um pouco da formação das pessoas. Desde pequeno que os meus pais me habituaram a lutar pelas coisas e a não desistir.

M: Perceber de mecânica é fundamental e foi importante para ti?

PBP: Sim. Quando tive a fuga de óleo na moto, sabia que quando o camião chegasse teria pouco tempo e por isso tratei de desmontar tudo para demorar o menor tempo possível. É importante estar muito à vontade na área, até para perceber algum barulho que possa indicar um problema mecânico.

M: O que podemos esperar agora do Hélder e da vossa equipa?

PBP: A carreira do Hélder vai estar cada vez mais direccionada para os raids africanos. O objectivo é ganhar o Dakar e por isso este ano tem de haver muito desenvolvimento quer das motos quer do piloto quer em termos de navegação. A ambição da equipa é ir mais longe. Já vencemos a classe de 450cc por duas vezes e por isso queremos fazer sempre melhor.
MOTOR

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